NOVO CORONAVÍRUS
O novo coronavírus
identificado como SARS-CoV-2 é o agente etiológico da doença que teve início na
cidade de Wuhan na China no final de 2019 e recebeu o nome de COVID-19,
que posteriormente atingiu todo o planeta com rápida progressão e alta
infectividade, caracterizando uma pandemia. Ainda sem explicação o fato da
ocorrência de óbitos em jovens sem comorbidades e a cura de indivíduos
centenários infectados pelo COVID-19. Questiona-se carga viral e/ou mutação
genética do vírus. As considerações aqui descritas são provisórias, pois cada
dia aparecem novos fatos.
O período de
incubação é de até 14 dias, com média de 4-5 dias. O COVID-19 se manifesta com quadro
clínico bastante variável, desde uma infecção assintomática, em cerca de 20%
dos casos, até sintomas graves na proporção de 1:6 pessoas. Caso graves tem
desfecho em óbitos, tanto pelas complicações pulmonares como
tromboembólicas.
Os principais sinais e
sintomas incluem febre (83%-99%), tosse (59-82%), fadiga (44-70%), falta de
apetite (40%), dor muscular (11-35%), dificuldade para respirar (31-40%),
secreção respiratória (27%), ageusia (perda de paladar), anosmia (perda do
olfato), ambos podem ocorrer em mais de 80% dos casos. A falta de ar deve ser
um sinal de alerta e indicativo da necessidade de atendimento
hospitalar. A transmissão é aérea e pelo contato com objetos contaminados.
Outros sintomas menos comuns: dor de garganta, confusão, tonturas, cefaleia
(dor de cabeça), dor no peito, diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal.
A doença pelo coronavírus
pode ser dividida em 3 etapas: Primeira fase,
início da infecção e replicação viral. Nessa ocasião o quadro é assintomático
ou cursa com poucos sintomas (febre, tosse seca, diarreia, cefaleia, náuseas,
sensação de bolo na garganta, diminuição de olfato e paladar). A duração é de 1
a 7 dias, e geralmente o teste é negativo. No exame laboratorial poderá ser
encontrado linfopenia, aumento do tempo da protrombina e D-dímero com LDH
levemente aumentada. Segunda fase ou
inflamatória também descrita como fase pulmonar. Ocorre do 7° ao 12° dia, onde o teste
poderá ser positivo. Sintomas frequentes: febre, dispneia, hipóxia
(PaO2/FiO2 menor ou igual a 300 mmHg), alterações na tomografia pulmonar,
redução da procalciotonina e transaminases. O D-dímero encontra-se elevado. Terceira fase ou fase da coagulação
intravascular disseminada e hiper inflamação com sintomas respiratórios mais
intensos (Síndrome Respiratória Aguda Grave - SRAG), choque cardiogênico e
falência cardiopulmonar), com mortalidade de 80%. Nessa fase os marcadores inflamatórios
estão elevados (CRP, LDH, IL-6, D-dímero, ferritina, troponina, NT-pro BNP).
Todo paciente com
saturação igual ou menor de 93% em ar ambiente tem indicação de internamento.
Esses pacientes, em estado crítico, cursam com linfopenia, aumento da troponina,
DHL, ferritina e D-dímero. Alterações de enzimas hepáticas e danos na função
renal são outras ocorrências usuais. Essas alterações e a necessidade de
ventilar acima de 6 l/min já indicam a transferência para unidade de tratamento
intensivo.
O diagnóstico de COVID-19
deve ser embasado no quadro clínico, epidemiológico, radiológico e
laboratorial, através dos exames RT-PCR e/ou detecção de anticorpos IgA, IgG e
IgM (teste rápido de anticorpos). A positividade do RT-PCR ocorre entre o 4° e o 6° dia do início dos
sintomas. O material para exame deverá ser colhido por swab nasofaringe
(sensibilidade de 63%) escarro ou lavado brônquico. Apesar de alta
especificidade, a sensibilidade do RT-PCR é mediana e depende da técnica da
coleta do material. Um resultado negativo não afasta o diagnóstico do novo
coronavírus, sendo recomendável repetir após 2 semanas dos sintomas. Os testes
sorológicos (rápidos) IgG e IgM aparecem no 8° dias dos sintomas tendo
desempenho variável tanto pela gravidade da doença como pelo momento da coleta.
A sorologia IgA aparenta maior sensibilidade que o IgM na fase aguda da
doença. Poderá ocorrer positividade cruzada com outros vírus ou pela vacinação
contra influenza. Já o anticorpo IgG aparece tardiamente, em média após 2
semanas (entre 10-18 dias) do início sintomático e sua presença confirma
infecção prévia pelo COVID-19.
Interpretação de possíveis
resultados:
PCR+; IgM--; IgG--:
período de janela imunológica
PCR+; IgM+; IgG--: fase
inicial da infecção
PCR+; IgM+; IgG+: fase
ativa da infecção
PCR+; IgM--;IgG+ : fase
tardia ou recorrente da infecção
PCR--; IgM+; IgG--: fase
inicial da infecção - Provável PCR falso --
PCR--; IgM--; IgG+: infecção passada.
Recuperado
PCR--; IgM+; IgG+: fase de
recuperação. Provável PCR falso --
0-5 dias: PCR +; dia 7:
IgM +; dia 14: IgG +
A tomografia
computadorizada de alta resolução de tórax (TCAR), não deverá ser solicitada
exclusivamente para diagnóstico de COVID-19. Os achados tomográficos estão
relacionados com a fase da doença, porém não são considerados preditores de
evolução clínica. A TCAR é útil no diagnóstico diferencial de outras
pneumopatias ou possíveis associações: tuberculose, pneumonias, enfisema
pulmonar, tromboembolismo, fibroses e outras. O raio X simples de tórax (RXT)
geralmente é normal na fase inicial da doença.
Sete coronavírus causam
doenças em humanos, sendo quatro responsáveis por resfriado comum e três
relacionados com infecções respiratórias graves, muitas vezes fatais e
denominadas de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). O H1N1 (vírus da
influenza, 2009) está entre os mais importantes causadores de SRAG. O
diagnóstico etiológico de pneumonia viral e bacteriana em mais de 50% não é
confirmado mesmo utilizando os mais modernos testes disponíveis dos mais
avançados laboratórios de diversos países. Apesar de vários estudos em
andamento no mundo, até o momento não há evidências clínicas de nenhum
medicamento que tenha confirmado eficácia no tratamento e prevenção do
SARS-CoV-2. Cerca de 80 estudos
em mais de 8 mil pacientes estão em andamento pela comunidade científica
brasileira para compreender o comportamento do novo coronavírus, onde mais de
20 trials estudam possíveis terapias antiviral, tais como:
REMDESIVIR:
Medicação foi utilizada no tratamento do ebola e da síndrome de Mers e é
considerado antiviral promissor no tratamento do SARS-CoV-2. O estudo inicial
concluiu que o medicamento é capaz de bloquear o vírus. Não está disponível no
Brasil. Aprovada pelo FDA nos Estados Unidos, mostrou uma aceleração no
processo de recuperação de pacientes em estado grave. Uso apenas por via
endovenosa.
CLOROQUINA/HIDROXICLOROQUINA: Estudos relatam efeito antiviral para
uma grande variedade de vírus incluindo o SARS-CoV e efeito in vitro para
COVID-19. Estudos ainda comprovam benefícios quando associada
a azitromicina. A cloroquina/hidroxicloroquina requer cautela
devido possíveis complicações cardíacas (prolongamento do intervalo QT,
arritmias). Necessita de estudos em larga escala para mostrar sua eficácia. A
hidroxicloroquina é uma variante menos tóxica que a cloroquina. A azitromicina
possui ação imunomoduladora no bronquíolo.
A
ação da cloroquina/hidroxicloroquina sobre o coronavírus deve-se a destruição
do escudo de sua proteção pela saponificação líquida de lipídeos presentes na
parede do vírus, tornando-o vulnerável às barreiras normais de defesa corporal.
Porém somente terá eficácia se for utilizada na fase inicial da infecção, antes
da avalanche de citocinas. Essa ação da cloroquina/hidroxicloroquina deve-se
aos efeitos colaterais inerentes da droga.
IVERMECTINA e NITAZOXANIDA (Annita®): Normalmente prescritos
para tratamento de verminoses. Estudos in vitro com animais
mostraram que a ivermectina possui efeito antiviral comprovado contra outros
vírus de RNA como dengue e febre amarela, além de papel imunomodulador.
Recentemente foi demonstrado que a ivermectina pode inibir a replicação do
SARS-CoV-2 in vitro, porém não há estudos in vivo. (www.isglobal.org).
CORTICOSTERÓIDES: No momento indicado para casos graves
no tratamento de bronquiolite obliterante com elevação do PCR. Em outras
situações aumenta o risco de psicose, necrose avascular, viremia,
hiperglicemia, infecções secundárias e piora da imunidade. Deverá ser usado na
segunda fase da doença.
ANTICOAGULANTES:
Pacientes internados deverão ser medicados para prevenção de micro
trombos. Utiliza-se a enoxaparina sódica na dose de 0,5mg/Kg de peso por
dose, 2 vezes ao dia ou até 1mg/Kg/dose, duas vezes ao dia a depender da
gravidade de cada caso. A coagulopatia por SARS-CoV-2 está associada à
alta mortalidade e o uso imediato do anticoagulante poderá salvar vidas.
O exame laboratorial que monitora a hipercoagulação chama-se D-dímero, o
qual encontra-se elevado na presença de trombose venosa profunda e tromboembolismo
pulmonar.
SORO DE CONVALESCENTES: Situação
em que o plasma humano derivado de sobreviventes do coronavírus é instituído
com objetivo de transferência de imunidade passiva. Resultados mostram melhoras
dos sintomas clínicos sem efeitos adversos. Ainda com dados preliminares.
Outras pesquisas estão em andamento, sem,
contudo, mostrar evidências de efeitos benéficos para o tratamento do novo
coronavírus, cita-se: interferon 1A, lopinavir, ritonavir, imunoglobulina
humana, tocilizumab, favipiravir, arbidol e suas possíveis combinações. O
arbidol atualmente usado para profilaxia e tratamento de influenza e outras
infecções respiratórias virais. Funciona bloqueando a fusão viral está sendo
avaliado em vários estudos na China para tratamento do novo coronavírus.
No momento estão sendo propostos o seguinte
esquema para tratamento do COVID-19, sem, contudo, comprovação científica:
1ª fase: Ivermectina (uso até 48 horas pós infecção);
Hidroxicloroquina+Azitromicina + Enoxaparina sódica (iniciar nos
primeiros 5 dias);
2ª fase: Metil-prednisolona
250 mg primeiro dia + 80 mg 2º e 3º dia. Não mais que 5 dias.
Apesar da possibilidade de obtenção de uma vacina para Sars-CoV-2 em
tempo menor que outras já comercializadas, a celeridade pode levar a
distribuição de doses com eficácia não totalmente comprovada. Várias condições
estão implicadas na sua produção: construção de fábricas (que somente serão
edificadas após aprovação da eficácia pelas autoridades regulatórias);
disponibilização em larga escala e distribuição à diversos países. O processo
de certificação passa por 3 fases de pesquisa clínica para comprovação de
eficácia e isenção de efeitos adversos. Enormes esforços para abreviar o tempo
de obtenção da vacina para COVID-19 estão em andamento em vários países. Pelas
pesquisas já realizadas com os vírus da SARS e da MERS, ambos coronavírus,
temos a esperança de que brevemente teremos a vacina adequada.
Não consta em nenhum protocolo de tratamento
da COVID-19 que o uso de vitaminas e suplementos possam aumentar nossa
imunidade, contudo, é amplamente reconhecido que o acetato de zinco, própolis
em cápsulas e outras vitaminas (recomendável verificar níveis laboratoriais), contribuem
para estimular nossas defesas naturais. Inquestionável é a alimentação
balanceada com variedade diária de frutas e verduras/vegetais multicoloridos,
não esquecendo da ingestão frequente de água.
Publicado em 18/5/2020 diretrizes para o tratamento farmacológico da COVID-19, como sendo consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, com as seguintes recomendações: Não utilizar: Hidroxicloroquina ou cloroquina isoladamente ou associada com azitromicina; oseltamivir, lopinavir/ritonavir, glicocorticosteróides de rotina, tocilizumabe de rotina, heparinas em doses terapêuticas de rotina e antibacterianos profiláticos. Sugerimos utilizar tratamento empírico com oseltamivir em pacientes com SRAG ou síndrome gripal com fatores de risco para complicações onde não se possa descartar o diagnóstico de influenza. Sugerimos utilizar profilaxia para tromboembolismo venoso de rotina em pacientes hospitalizados com COVID-19. Recomendamos utilizar antibacterianos em pacientes com COVID-19 com suspeita de infecção bacteriana. A justificativa para não utilizar os medicamentos: recomendação fraca e nível de evidência muito baixo.
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